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Educação Patrimonial: Utopia ou Realidade?

  • Foto do escritor: Visão Jovem
    Visão Jovem
  • 12 de fev. de 2018
  • 3 min de leitura

O património natural e cultural da nossa ilha da Madeira, tem sido um dos seus principais e diferenciadores trunfos, nos mais diversos domínios. No entanto, cingindo-me ao património cultural e a avaliar pelo quadro estratégico cultural do Programa do XII Governo Regional da Madeira, os “mais diversos domínios” serão (principalmente) reduzidos a uma oferta turística de excelência. Fala-se mesmo na criação de áreas interpretativas e roteiros de visita que promovam a sua atractividade turística, descurando, por exemplo, a componente educativa dos jovens, que continuam a olhar para o seu património cultural como algo aborrecido (tal como eu achava) e sem significado, precisamente, por não serem (devidamente) incentivados a descobrir e a preservar os valores que esta riqueza cultural possui.


Sem surpresas, o Plano e Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Região Autónoma da Madeira (PIDDAR) para 2018, seguiu as mesmas pisadas. O que irão ensinar aos jovens sobre o seu património cultural? O que irão dizer aos mais de 32 mil (entre os 15 e 24 anos) sobre este tema? Até podem nem saber a diferença entre um monumento, conjunto ou sítio (classificações do património cultural imóvel segundo a legislação portuguesa), mas desde que o protejam para que o turista possa tocar e fotografar, será o suficiente. Neste contexto, aconselho a comparação entre o PIDDAR actual com, por exemplo, o de 1995, para notarem a diferença de prioridades.


É esta a imagem que pretendem passar para a nova geração? De nada adianta contra-argumentarem com o facto de os madeirenses beneficiarem com o impacto económico do sector turístico, quando outros valores estão a ser crucificados. Muito menos que a economia irá influenciar positivamente no sector social e cultural, quando esses benefícios não são devidamente utilizados na formação patrimonial dos jovens madeirenses.


Obviamente que, tendo em conta o relevo da actividade turística para a Região, parece-me inteligente que se recorra a estes atributos identitários não só para afirmar a sua marca num mercado cada vez mais competitivo, como utilizá-los de maneira a que seja possível alcançar um desenvolvimento sustentável. Qualquer pessoa consegue perceber isso… O que se defende é a criação de uma política de educação de qualidade, como base de todo este processo. Como poderemos preservar, “vender” e divulgar o nosso património, quando a grande maioria nem o consegue identificar? Ainda assim, gostaria de destacar o programa Herança Madeirense, da Associação Académica da Madeira, como um exemplo a seguir, sem esquecer o trabalho de alguns museus que ainda promovem o serviço educativo.


Outra questão relevante que me deixou curioso, mas ainda mais preocupado, é a visão que apresentam sobre desenvolvimento sustentável. Por aquilo que consegui deduzir, o termo “desenvolvimento sustentável”, não passa de uma cortina requintada para tapar uma pretendida “rentabilidade financeira”. Nesse sentido, cientificamente, embora o conceito de desenvolvimento sustentável possa diversificar-se, algo que todos deverão ter em conta será a relação entre factores ambientais, sociais, culturais e económicos.


Certamente que passaram por despercebidos os objectivos das Nações Unidas para a Agenda de 2030 para um Desenvolvimento Sustentável, assim como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento em 2017, mesmo com a presença do Secretário-Geral da Organização Mundial de Turismo (OMT) na Madeira. O que se fez? Alguém ouviu falar de algo relevante sobre este tema? Já agora, o que será feito em 2018, no âmbito do Ano Europeu do Património Cultural?


Eu sugiro que este longo percurso tenha como inspiração as seguintes palavras de Nelson Mandela: “Education is the most powerful weapon which you can use to change the world”. Para tanto, será necessário olhar para os jovens e para a educação patrimonial como uma relação necessária e de valor, que poderá contribuir para o desenvolvimento da Região, abrir portas a discussões como a gestão sustentável dos recursos patrimoniais, poderá igualmente contribuir para a diminuição do desemprego jovem, a criação de novos públicos que preservem e dinamizem esta herança, etc.


O objectivo passará sempre por construir um futuro sustentável com duas das nossas maiores riquezas: a autenticidade do património cultural e as capacidades dos jovens madeirenses.


Marco Gomes

 
 
 

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